Completando a apresentação (parcial) do artigo de Jorge Costa, relativo ao "Ano da morte de Ribeiro Santos", editamos hoje o texto apresentado em destaque, intitulado Esquerda estudantil. Um activismo fragmentado e resoluto.
ESQUERDA ESTUDANTIL. UM ACTIVISMO FRAGMENTADO E RESOLUTO
Dez anos depois da crise académica de 62, a oposição estudantil à ditadura está irreconhecível. Tudo mudou, desde os tempos da "unidade estudantil" em defesa da autonomia universitária e das AAEE contra o decreto 40900, luta que encontrava margem de manobra táctica nas ambiguidades de um Marcello Caetano então reitor da Universidade de Lisboa, demissionário face à violência policial. O actual governo Caetano não só não consegue evitar o colapso do funcionamento do ensino superior e turbulência agravada nos liceus, como as enfrenta com violência cada maior. O associativismo joga ao gato e ao rato, já não com a legislação, mas com as polícias política e de choque. O PCP, que há dez anos era a única força estruturada, está agora acossado pela esquerda radical- da constelação maoísta à minoria trotskista- e tem dificuldades em adaptar-se aos novos tempos.
A UEC (marxista-leninista) é a força mais importante do campo maoísta, em Lisboa. Liderado a partir de Paris por Eduíno Vilar, o PCP (m-l) é afinal uma força eminentemente estudantil. No seu órgão para estudantes, "Servir o Povo", entre apelos à escuta das rádios de Pequim e Tirana, a UEC (m-l) explica-se: "na fase actual, na qual se verifica uma aguda luta pela direcção do movimento estudantil por parte de diversas classes, não demarcar nitidamente no seu seio a posição proletária significaria assumir uma posição de abandono do movimento estudantil. Pelas razões apontadas, surgiu a UEC (m-l) antes do congresso que reorganiza o Partido".
No terreno estudantil, a corrente dos "Pop's", sigla resultante de "Por um ensino popular" (...) é comandada por Pedro Ferraz de Abreu, que estabelece pontes com outras correntes maoistas (...). Também no campo maoista, pesam os Comités Comunistas Revolucionários (marxistas-leninistas), constituídos a partir da brochura de João Bernardo "À esquerda de Cunhal todos os gatos são pardos" e muito centrados no IST. (...)
Isolada contra o culto de Estaline está a corrente trotskista, agrupada em torno dos Grupos de Acção Comunista, baseados na Faculdade de Medicina e em alguns liceus. Pugnando por uma politização da luta cada vez mais aberta, criticam o sindicalismo estudantil como forma de alargamento do movimento (...). Divulgam escritos sobre a sexualidade e pedagogia, importados da nova geração trotskista europeia e do Maio de 68.
Outra UEC é fundada em Janeiro de 1972, agregando os organismos estudantis do Partido Comunista Português. Constatando a perda de terreno, os estudantes comunistas- controlados por Zita Seabra- apresentam-se com posições firmes quanto à guerra colonial (ainda que a "deserção na frente de combate", recomendada aos soldados portugueses pelo PCP não coincida com a "deserção com armas no final da recruta" apregoada pela extrema-esquerda). Mas em plena ofensiva repressiva, a UEC não consegue evitar a distância que a transposição da política do PCP cria em relação aos meios estudantis radicalizados, mais sensíveis à acção directa anti-capitalista e anti-colonial do que à defesa de espaços de legalidade. (...)
De comum entre si, as várias correntes têm, além do mais, a inovação sectária. Uma terminologia nova tomou conta da inquietação estudantil, invadindo mesmo a adolescência liceal: "revisionismo", "neo-revisionismo", "aventureirismo", "liquidacionismo", "social-fascismo".
bela série de posts.
este artigo (que eu desconhecia ) é o primeiro que vejo em que depois de o ler não se fica com a ideia de que a agitação estudantil se confinava às organizações estudantis próximas do pc, ao mrpp e à faculdade de direito.
acho que é de assinalar que o frausto da silva , director do técnico aquando da invasão de 16 de Maio embora seja discutível que tenha sido ele a chamar a polícia, é hoje um insigne democrata, e o homem que apareceu em agosto a "salvar a situação" , o sales luís, teve o azar de apanhar com o 25 de abril em cima depois de um ano de 73 em que tentou de tudo um pouco para "normalizar a situação" foi saneado acabando por seguir para o brasil. partidas da história... quase que se pode dizer que o fraústo pode agradecer aos estudantes extremistas que inviabilizaram a permanência dele como director o facto de ter continuado a sua carreira no pós 25 de abril.
o veiga simão é pior, de ministro facho que assitiu a invasões de policia de choque nas universidades, gorilas, etc, acabou "socialista" de gema.
ultima nota: o discurso... o discurso dos governantes da época, do costa andré por exemplo, era um discurso que hoje podia muito facilmente ser subscrito por muita gente insuspeita relativamente à situação presente da vida estudantil. Mudam-se os tempos...